Em meio ao mato, que foi capinado graças à coragem e aos enxadões de destemidos homens, nascia, há 35 anos, um boteco feito de folhas, capins e cascas de bambu. Na época o pequeno comércio era o ponto de parada de inúmeros viajantes que transportavam boiadas. Estes bois foram os responsáveis por dar nome ao local, a alcunha, aliás, permanece até os dias atuais: Comunidade Ribeirão do Boi.
“Logo em seguida, vieram missionários que pregavam a palavra para as pessoas que residiam nas redondezas, e com eles surgiu a ideia de proporcionar lazer através do esporte”, relembra um dos fundadores da localidade, Francisco Constantino.
Com o passar dos anos várias melhorias foram introduzidas na comunidade. “Aqui perto já existia uma escola no povoado da Boa Esperança, mas eu resolvi fundar outra de primeiro grau para as pessoas que não sabiam ler nem escrever. O projeto durou apenas um ano, pois os 42 alunos eram divididos em quatro turmas, e o professor tinha dificuldade em lecionar para todos”, recorda Francisco.
Ele também lembra as dificuldades enfrentadas pelas crianças do Ribeirão do Boi, após o fechamento da escola, já que naquele tempo não havia transporte escolar para as comunidades rurais do município. “Deixar os filhos morando sozinhos na cidade não era uma atitude muito prudente, então solicitei ao prefeito de Itapagipe que colocasse uma “puxada de alunos”, para que a criançada pudesse dar prosseguimento aos estudos”.
Quando a comunidade foi fundada, em meados da década de 70, havia apenas um pequeno barracão construído com toras de madeira e folhas secas, onde eram realizadas algumas confraternizações “Contudo com o esforço e ajuda de diversas pessoas como José Elias, Sebastião Batista, Alberto Geraldo Queiroz, Dicariolano Paulino da Costa e muitos outros grandes homens e mulheres. A comunidade foi crescendo e ganhando força, fizemos uma grandiosa reforma na nossa sede, trouxemos o primeiro telefone rural da região e instalamos um pequeno ambulatório médico”, orgulha-se Francisco.
De acordo com Aniceto Costa, agricultor nascido e criado na região, umas das características mais marcantes dos moradores do Ribeirão do Boi são a fé e a religiosidade. “Uma vez por ano nós realizamos a festa em louvor a São Sebastião, que é considerado pelo catolicismo o santo protetor dos trabalhadores e das famílias. Além disto, todas as quartas-feiras nós nos reunimos para orar aqui na capela da comunidade e uma vez por mês, recebemos a visita de um padre para realizar a missa. Nesses encontros, logo depois de encerradas as orações, nós aproveitamos para jogar conversa fora e tomarmos um lanche juntos”.
Aniceto também ressalta o quanto todos os integrantes da comunidade são unidos “Aqui no Ribeirão do Boi, as portas estão sempre abertas, todos tem livre acesso às dependência do nosso barracão. Nós temos um campo de futebol e uma quadra de vôlei, além de um local propício para a realização de festas e a capela. Aqui somos uma grande família, que se respeita e cuida um do outro”. Todas as benfeitorias do local recebem manutenção periódica e cuidados especiais de todas as pessoas que residem nas proximidades da comunidade, um trabalho voluntário e ininterrupto.
Atualmente, a comunidade Ribeirão do Boi é presidida por Uéder Teodoro Ferreira, que retorna ao seu antigo cargo e relembra como foi participar de toda evolução do local, já que ele nasceu no mesmo ano em que a comunidade foi fundada. “Já fui presidente aqui por quatro anos e voltei no início de 2011 para dar continuidade aos trabalhos. No início não existia o barracão e as festas eram realizadas em baixo de barracas de bambus e plásticos, mas isso não incomodava o pessoal da região que vinha em peso dançar forró. Nossa última festa realizada neste ano contou com um público de aproximadamente 2500 pessoas. E apesar da escassez de investimentos por parte do empresariado, a festa é famosa até mesmo nas cidades vizinhas”.
Mas o presidente deixa transparecer preocupação e conta que teme que o local caia no esquecimento em um futuro bem próximo “Eu tenho notado uma quantidade cada vez maior de jovens que estão se mudando para a cidade em busca de estudo e trabalho, e aqui irão restar alguns poucos moradores. Temos muito medo que a comunidade deixe de existir e sabemos que, infelizmente, isso pode acontecer e talvez não demore muito tempo”.
Apesar das dificuldades o presidente finaliza que o objetivo principal deles é conservar o patrimônio e a memória da comunidade “O essencial talvez seja o mais difícil, que é zelar para que o Ribeirão do Boi sobreviva às mudanças e não volte a ficar entre capins e cascas de bambu”.
Escrito por Larissa Rosa
6° período de Comunicação Social / Jornalismo - 2011
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