sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A HORA DO FACÃO

Cerca de 10 mil trabalhadores chegam ao fim de contrato: os impactos da entressafra da cana na economia frutalense

Foto: Messias Pereira

                 O brasileiro que adoça o cafezinho todo dia ou que abastece o carro flex toda semana talvez não saiba, mas a cana-de-açúcar não é produzida o ano todo. Geralmente a entressafra começa entre os meses de novembro e dezembro, e dura de três a quatro meses. Durante esse período, a usina não deixa de produzir energia, e outras atividades, como o plantio, continuam a todo vapor. Também nessa época é feito o balanço da safra anterior e o planejamento para o próximo ano.
                Mas a grande maioria dos trabalhadores, que são contratados por safra, está entrando de férias. As usinas de Frutal empregam juntas cerca de cinco mil trabalhadores diretos. Somando às outras usinas da microrregião, num raio de 50 km, são empregadas cerca de 10 mil pessoas diretamente. Sem falar nos demais setores fortemente ligados à cultura da cana-de-açúcar, como empresas de veículos, maquinários agrícolas e fertilizantes.
                Para Sebastião Ferreira, corretor de imóveis e cidadão frutalense há mais de 40 anos, a parada não interfere tanto no setor imobiliário, mas o comércio varejista sente consideravelmente o impacto da entressafra.
                “Justamente na época do ano em que os lojistas esperam vender mais, abrindo as portas também durante a noite, um percentual elevado da população fica sem emprego.”
                Sebastião chama a atenção para um fator importante. “Então as pessoas apelam para o crédito fácil, e o índice de inadimplência tende a aumentar nos primeiros meses do ano”.
                Michel Fernandes, coordenador técnico da Usina Cerradão, é o responsável pelo planejamento de safra, desde a quantidade colhida diariamente até o revezamento das áreas de colheita. Ele não considera o período de recesso um problema.
                “Acredito que os benefícios trabalhistas, pagos ao fim do contrato, acabam suprindo esse período em que as pessoas aguardam o retorno da safra, mesmo aquelas que preferem não buscar empregos temporários de fim de ano. O que percebemos é que praticamente os mesmos trabalhadores são recontratados no ano seguinte, e isso é bom pra ambas as partes.”

Curiosidades sobre a entressafra da cana-de-açúcar

* Não há uma data fixa todo ano para que a produção cesse. Trabalha-se com uma previsão no início do ano, e um conjunto de vários fatores, sejam eles técnicos ou climáticos, pode fazer com que a safra se estenda por mais tempo para que a quantidade proposta inicialmente seja atingida.
* A economia local cresceu absurdamente depois da chegada das usinas. Há menos de 10 anos, o salário médio do frutalense correspondia ao salário mínimo. Hoje, por exemplo, o menor salário pago na Usina Cerradão é de R$ 800, mais benefícios.
* Os trabalhadores são contratados por safra, e têm direito aos benefícios trabalhistas, como 13º salário e férias remuneradas. Quase todos residem na própria cidade, e acabam voltando na safra seguinte. Um cuidado que a empresa tem é contratar prioritariamente pessoas que moram em Frutal há pelo menos cinco anos, para evitar gastos com rescisões. Mesmo porque, se de um lado o trabalhador precisa do emprego garantido para o ano seguinte, a usina também necessita da mão-de-obra.
Escrito por Alex Augusto
6° período de Comunicação Social / Jornalismo - 2011

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