Até onde o consumo de bebidas alcoólicas oferece prejuízos à saúde e passa ser considerado um vício?
Quase sempre começamos na juventude, bebendo apenas aos sábados. Depois, resolvemos esticar esse tempo e iniciamos as “bebemorações” já na quinta ou sexta-feira. Porque não prorrogar até domingo? Aí, começamos a tomar uma depois do almoço, depois do trabalho. De repente, é a bebida que nos domina e não há “saidera” que nos faça parar.
Tomar um drinque de vez em quando para relaxar é normal. O problema é quando essa dose aumentar e um copo na mão virar a única e habitual válvula de escape. Esses são sinais de que a pessoa está a um passo da dependência.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, 11,2% dos brasileiros que vivem nas 107 maiores cidades do país, são alcoólatras. Filhos de dependentes são mais suscetíveis à doença, mas muitos possuem outros motivos pra entrar no vício.
Embora o alcoolismo seja um problema gravíssimo de saúde pública, o consumo de álcool, ao longo da história, sempre foi associado à saúde. E consumido moderadamente, o álcool pode ser um aliado no combate a diversas doenças. Nos últimos anos, várias pesquisas observaram os benefícios que um consumo moderado de bebida alcoólica pode trazer. A redução de risco de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, artrite e asma são alguns deles, junto com a melhora do quadro de diabetes e o aumento do nível de HDL, ou "colesterol bom", no sangue. Esse consumo baseia-se em cerca de 30 gramas de álcool por dia, o mesmo que uma ou duas taças de vinho.
Como saber se sou um alcoólatra?
De acordo com os Alcoólicos Anônimos, a presença de quatro ou mais respostas afirmativas das seguintes perguntas indicam grande probabilidade de a pessoa ser dependente.
• Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais) sem conseguir seu objetivo?
• Tomou algum trago pela manhã nos últimos tempos?
• Inveja aqueles que bebem sem criar transtornos?
• Seu problema com a bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?
• A bebida já causou incidentes em casa?
• Nas reuniões sociais em que as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?
• Você afirma que bebe quando quer e pára quando quer, apesar das provas em contrário?
• Faltou ao serviço nos últimos doze meses por causa da bebida?
• Já teve "apagamentos" depois de uma bebedeira?
• Já pensou que poderia aproveitar melhor a vida se não bebesse?
O primeiro passo precisa ser tomado pelo dependente, reconhecer que é vulnerável e sofre com o vício é a porta que precisa ser aberta para a busca de tratamento. A família e os centros de recuperação têm papel essencial na recolocação desse indivíduo na sociedade.
História de vida de um recuperando
Em Frutal, o Centro de Recuperação de Alcoólatras (CEREA) promove reuniões e alerta os malefícios causados pelo álcool. O senhor D. J. C., 57 anos, que já foi presidente do CEREA, é um alcoólatra em recuperação há 30 anos e ajuda outros dependentes.
“Aos oito anos fui a uma festa com mais dois primos, por curiosidade experimentei a popular cachaça e para me sentir encorajado a convidar uma moça para dançar. Neste dia, não sei como voltei para casa e me recordo de ter dormido em baixo de uma árvore. A partir de então, passei a beber constantemente”, comenta D.J.C. emocionado como tudo começou.
Mais tarde, ele se casou e a pedido de sua esposa, parou de beber. Porém, ao encontrar um “amigo de boteco”, voltou ao vício depois de ficar por três meses sem ingerir bebida alcoólica. A dependência causou a destruição de seu casamento, de sua família e provocou o sofrimento de seus pais. Ele conta que tentou suicídio por três vezes e que já sofreu várias quedas e escoriações por beber e perder os sentidos. A frente do CEREA, ele contou e compartilhou sua história com outros dependentes que frequentam o local a procura de ajuda.
O alcoolismo é uma doença crônica que ainda não tem comprovação científica se está diretamente relacionada à hereditariedade. Em recente levantamento feito pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), no Brasil a bebida alcoólica mais consumida é a cerveja, com índice de 61%. A facilidade na compra de álcool no país tem elevado o consumo e caracterizado uma população consumidora cada vez mais jovem, além de ser a porta de entrada para drogas ilícitas.
Escrito por Cristina Nogueira
6° período de Comunicação Social / Jornalismo - 2011